SECURAS


SECURAS



Somos parte de um todo e há quem afirme que somos o todo em partes. ~SOlHOlME~ ☀✨☀✨☀✨☀✨☀✨

Vivemos securas. A aridez nos consome. Nesses dias, parece faltar o líquido que lubrifica nossos cotidianos. As securas não são somente aquelas que dizem respeito ao clima, ainda que o clima social dessas terras não esteja propício a boas fertilidades. Olhamos para o horizonte e só enxergamos mais terra seca. Pisar num chão seco machuca nossos pés, deforma e adoece nossos corpos.  Vivemos securas, estamos no meio do fogo. Inferno. O que podemos fazer?
Da qualidade do fogo, essa já conhecemos, louvamos sua existência. Forjar, aquecer, cozinhar, assar. Não é deste fogo que falamos, mas sim daqueles que instalam securas, queimando nossas vontades. Estão enxugando nossos desejos, murchando nosso querer. 


O rei, em sua ávida secura, incendiou a terra. A boca do rei é seca. Seu corpo esta secando. Seus pensamentos denunciam uma esterilidade que contamina. O rei é seco e convoca uma legião ressequida, sem alma. Infecundos, sua produção é da ordem das rudezas, das ignorâncias. Trogloditas torpes, bufões sem humor. Não possuem o húmus indispensável para tornarem-se humanos. O que podemos fazer?


É preciso molhar-se, encharcar-se de ânimo para fertilizar-se. Adubar-se para germinar outras poéticas. Como donos da terra, temos de aguá-la para não deixá-la morrer. É preciso semear novamente, colher outras verduras. Verdes plantas, vitaminadas com outras potências. Cultivar em comum. A plantação e a colheita precisam ser coletivas. Sozinho, ninguém fertiliza uma terra árida. Se não quer plantar, apenas coletar o que a terra te dá, combata o rei e seu exército, pois eles não querem terra nenhuma. Eles não querem herdar a terra, pois vivem de nossas securas. 


Delirantes, buscamos mais umidades, ansiamos por vidas inundadas de bondades, molhadas pelos afetos; cobiçamos vidas regadas por esperanças. Mas são esperanças que não esperam, elas expulsam aquelas crenças quase canônicas, salvacionistas, que buscam melhores amanhãs. São esperanças que pulsam para revoltar no hoje, nos instantes em que nos encontramos plenamente vivos, em contato com os outros e com o mundo. 


Corpos separados, desejos cindidos. Incompletude dos anseios. Desatamos. Podemos dar outros nós? Criar outras realidades? Quais suturas nos ligarão? Como seremos juntados novamente? O que nos emenda não possui forma, cor, gosto, cheiro, mas possui forças. É por isso que criamos o que se chama “água corrente”.  Na terra seca, qualquer gota é bem vinda.

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