MUITO ALÉM DE "PUTA MERDA"
Eloenes Silva
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As fotos do local pichado, divulgadas nas redes sociais virtuais, logo suscitaram críticas, deboches e até elogios. Enquanto uns relacionavam tal ação ao descaso da atual gestão municipal em relação à cidade e seu patrimônio público ou questionavam como foi possível tal intervenção em um local de fácil visibilidade e próximo ao batalhão da Brigada Militar, outros usavam tal fato para levantar infindáveis bandeiras de discussões partidárias.
Procuro tomar distância da multidão e suas doxas cotidianas para me posicionar de outros ângulos e perspectivas. Primeiramente, acredito que o "problema" ultrapassa os limites do município e remete ao âmbito cultural. As intervenções realizadas por culturas juvenis contemporâneas são pautadas, quase sempre, pela busca de visibilidade e reconhecimento entre seu grupo. É assim com as pichações, com os ritmos musicais que emergiram nas periferias; com as linguagens juvenis que somente se tornam visíveis ao instaurarem práticas quase "agressivas" para seu reconhecimento Assim, o autor da pichação, não poderia ter encontrado um espaço melhor para seu intento e, com toda a publicidade alcançada, deve estar comemorando seu feito juntamente com sua turma.
Segundo: a discussão que também foi levantada sobre pichação/patrimônio público não é recente e grandes metrópoles, como São Paulo e Porto Alegre, há mais de dez anos promovem discussões em torno do tema. E nessa questão está envolvida a relação entre transgressão versus estado. Nesse sentido, lanço a discussão para outros patamares e a quem mais interessa: a população. Respeito e cuidado em relação ao uso e preservação dos bens públicos são as prerrogativas para o bom cidadão, como reza a cartilha dos valores civilizatórios criados pela moderna sociedade ocidental. Resta saber se a grande maioria da juventude ainda se encontra e se reconhece como portadora de tais valores num período em que são constantes as crises culturais, sociais e políticas em que se encontram os estados-nação com seus modos de liderança e de gestão com a lide da coisa pública.
Segundo: a discussão que também foi levantada sobre pichação/patrimônio público não é recente e grandes metrópoles, como São Paulo e Porto Alegre, há mais de dez anos promovem discussões em torno do tema. E nessa questão está envolvida a relação entre transgressão versus estado. Nesse sentido, lanço a discussão para outros patamares e a quem mais interessa: a população. Respeito e cuidado em relação ao uso e preservação dos bens públicos são as prerrogativas para o bom cidadão, como reza a cartilha dos valores civilizatórios criados pela moderna sociedade ocidental. Resta saber se a grande maioria da juventude ainda se encontra e se reconhece como portadora de tais valores num período em que são constantes as crises culturais, sociais e políticas em que se encontram os estados-nação com seus modos de liderança e de gestão com a lide da coisa pública.
Nesse contexto, para um jovem do centro ou da periferia (ou de qualquer lugar em que estejam distantes os "ideais de ordem", os "valores civilizatórios" e também os "direitos sociais", como a educação pública de qualidade, e que teriam de ser garantidos pelo Estado) um espaço urbano, como um patrimônio público, pode ser visto somente como outro local para a produção de uma pichação. Pode ser visto como espaço para visibilidade, reconhecimento e fama, pelo menos entre os seus.
Evidentemente que a questão não se resume somente à educação, mas, atuando como professor há 16 anos em Alvorada, posso garantir que o entendimento que a grande maioria das juventudes possui sobre patrimônio público ou privado é quase nulo. Parte do descaso público, da falta de informação e também da inexistência de tais conteúdos no currículo escolar, o que faz muitos professores não tocarem no assunto em sala de aula
Pelo visto, a pichação que demarcou a praça, e os assuntos nas redes sociais virtuais, está muito além. Muito além de uma "PUTA MERDA".
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