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Showing posts from May, 2020

SECURAS

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S ECURAS Vivemos securas. A aridez nos consome. Nesses dias, parece faltar o líquido que lubrifica nossos cotidianos. As securas não são somente aquelas que dizem respeito ao clima, ainda que o clima social dessas terras não esteja propício a boas fertilidades. Olhamos para o horizonte e só enxergamos mais terra seca. Pisar num chão seco machuca nossos pés, deforma e adoece nossos corpos.  Vivemos securas, estamos no meio do fogo. Inferno. O que podemos fazer? Da qualidade do fogo, essa já conhecemos, louvamos sua existência. Forjar, aquecer, cozinhar, assar. Não é deste fogo que falamos, mas sim daqueles que instalam securas, queimando nossas vontades. Estão enxugando nossos desejos, murchando nosso querer.  O rei, em sua ávida secura, incendiou a terra. A boca do rei é seca. Seu corpo esta secando. Seus pensamentos denunciam uma esterilidade que contamina. O rei é seco e convoca uma legião ressequida, sem alma. Infecundos, sua produção é da ordem das rudezas, das ign
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Notas pandêmicas ao sul do mundo ou quanto vale tua potência?   Quais as chances de nos transformarmos em pandêmicos, em pan + en+demos? Os gregos antigos denominavam o prefixo pan como o que remete ao universal, que diz respeito a todos , enquanto o en faz a ligação, indicando o que estava no e com o demos, com o povo.   Vemos aí, em uma simples pesquisa etimológica, que a expressão pandemia pode encontrar outros significados, configurando-se em palavra que pode ser rachada [1] , aberta, para encontrarmos nela outros sentidos, outras potências. Assim, afastando-me cada vez mais do conceito de enfermidade, doença ou flagelo que tal expressão pode conter, algumas perguntas me assaltam nesses tempos de isolamento. Depois da pandemia ainda seremos pan , estaremos todos em conexão? Que outros vínculos poderão ser criados por meio dessa condição?   Nesses tempos de forçadas distâncias (como se outros tempos já não os fossem) que sentimentos te invadem e agora habitam