Muito além do fim do MINC ou "Vagabundo" é a puta que te pariu!*
Os mais "novinhos" (que desfrutaram de uma considerável valorização das expressões culturais artísticas populares e de rua neste país ) talvez não tenham sentido direto no corpo e na mente o que é ser chamado de "vagabundo".
Se ao menos, a intenção daqueles que usam tal expressão fosse uma comparação com os errantes, com os vagantes que deambulam em meio ao povo para representar todas as matizes do convívio humano, eu aceitaria tal comparação.
Artistas de rua são historicamente desvalorizados ou olhares desconfiados. Seja durante grafitagem em muros, participação em festivais musicais, performances teatrais ou quaisquer formas independentes de arte realizadas em espaços públicos. .
Por mais que digam ao contrário, a cultura "popular", de "rua", "alternativa" ou qualquer outra denominação usada para representar tais expressões artísticas e públicas atingiu um considerável reconhecimento nos últimos anos. Evidente que não deve-se somente aos projetos culturais do MINC no governo federal, mas, é certo que a revolução dos programas Mais Cultura e Cultura Viva fomentou uma valorização cultural popular nunca vista neste país.
Escrevo tais linhas com a experiência de quem esteve à frente do Ponto de Cultura De Olho na Cultura, na cidade de Alvorada- RS durante os anos de 2006 e 2007.
Em nossas andanças, por mais de dois anos em bairros pobres, levando música, teatro, artes plásticas, conseguimos sentir uma vontade de valorização... perceber coisas acontecendo... observar a pulsação dos corpos, das mentes, do brilho nos olhos da população ativa no meio da rua...
A cultura era produzida em seus ambientes, expressa e fomentada pelos próprios habitantes dos locais, construída com suas "ferramentas". Nossa metodologia, enquanto ponto de cultura, era composta de reuniões semanais para discutir os locais das intervenções
No entanto, não se consistia somente de "levar", "entregar" ou "distribuir" a cultura, a intensidade residia exatamente na construção realizada junto com os moradores do local.
Coletividade: talvez a palavra que resuma aqueles dias. Tudo era discutido, desde as grafitagens, as peças teatrais até a músicas usadas no evento.
Os tempos mudam...
* O texto foi escrito no ano de 2016 após a decisão de extinção do Ministério da Cultura pelo então Governo Temer - que assumiu o governo federal de 2016 a 2018.
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